As notas marginais manuscritas no livro antigo
Publicado por Paulo Ferreira em
from http://liberantiquus.wordpress.com/
As notas manuscritas marginais são descritas bibliograficamente, de
forma simples/genérica, ficando-se-a saber, que aquele exemplar possui
notas ms marginais, e/ou na p. de título. Por vezes, nem esta breve e
preciosa menção consta, o que é um erro [na descrição do livro antigo],
pois subordina-se o acesso a informação única do exemplar aos ditames da
descrição simples.
É dever do serviço de informação possibilitar o acesso. Se no registo
bibliográfico, esta menção do exemplar não consta, está a ser omissa uma
preciosa informação ao leitor/investigador de livro antigo.
Quando esse mesmo exemplar tem ainda descrita a proveniência, o
interesse, em consultar a obra, porque a mesma possui notas ms, pode ser
ainda maior e possibilita o acesso a um documento único: o exemplar que
possui notas marginais ms (independentemente de estar identificada, em
definitivo, a sua proveniência).
Demonstrando a importância de se assinalar (mesmo genericamente) a
existência das notas ms, regista-se a título exemplificativo que na
Biblioteca da Universidade de Coimbra, encontra-se a “primeira edição,
impressa em Vincenza, em 3 de Novembro de 1507, de uma colectânea que
foi verdadeiro sucesso editorial no século XVI” Paesi Novamente Retrovati.
O exemplar encontra-se descrito da seguinte forma: “..tem notas
manuscritas e algumas folhas restauradas. Conserva-se numa caixa em
formato de livro, em pele vermelha e decorada com o super-libros
heráldico do seu antigo possuidor.”
Na Biblioteca Nacional, por vezes como nota geral [registos
bibliográficos mais antigos?] e, por vezes, como deve sê-lo actualmente,
como nota ao exemplar, recolhemos o seguinte exemplo: “Nota ms. na f.
[1]: “Non prohibetur”; notas mss. marg. e interl”, e uma proveniência
identificada: ”Pert.: Vicente Esteves; Livraria Pública do Colégio do
Funchal da Companhia de Jesus” no documento: ”Homeliae diversorum
auctorum in evangelia”.
Fernanda Maria Cardoso Santos desenvolveu o pertinente estudo: “Marginália
nas colecções das bibliotecas: o fundo Guilherme de Vasconcelos Abreu
na Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa“.
Mestrado em Ciências da Documentação e da Informação – ramo de
Biblioteconomia e Documentação, apresentado na Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa em 2010.
“Partindo de um caso prático, pretende-se estudar a importância das
notas marginais manuscritas nas colecções das bibliotecas e da sua
descrição num catálogo bibliográfico, nos quais, muitas vezes a sua
existência é omitida”, assim inicia o resumo deste interessante estudo
no campo das notas marginais manuscritas.
[De facto, nem sempre esta menção é registada e, quando existe,
entrega-se, por vezes, à ligação digital ao documento, a descoberta
destas particularidades ou sob o argumento da descrição mínima, esta
importante marca não é simplesmente assinalada. A descrição de livro
antigo, por possuir características que o diferenciam do documento da
segunda metade do Século XIX tem campos próprios e alguns deveriam ser
descritos, sempre que se identifica a ocorrência respectiva. Há ainda
novos campos em análise, ao nível internacional. Deve evidentemente, ser
usado o critério do bom senso, desenvolver [em equipa] procedimentos
definidos, validados e redigidos…]
A autora do estudo prossegue indicando que as notas ms foram
inequivocamente identificadas pela pertença anterior do fundo: o da
Biblioteca privada de Guilherme de Vasconcelos Abreu em posse da FLUL,
tendo assim criado “uma tabela de descrição de marginália a partir de
diversos referenciais (…) Definiram-se igualmente quais os elementos
imprescindíveis para a descrição num registo de catalogação.”.
“A existência de notas marginais deveria ser sempre referenciada nos registos bibliográficos” pág. 39.
E, para além de simplesmente assinalar que o exemplar contém notas
marginais ms (e este simples dado, é, como já referimos, frequentemente
omisso), deve ainda, segundo indica a autora, ser mencionado o “tipo de
notas existente nos campos correspondentes do formato UNIMARC - marcas
de posse (assinaturas, ex-líbris, dedicatórias, carimbos…), notas de
aquisição (local, data e custo), notas de leitura (comentários,
referências internas e/ou externas, definições, citações, traduções…), a
possível autoria e datação das notas e mesmo a quantidade [e
distribuição] das mesmas [no exemplar] (…) e o(s) instrumentos de
escrita das notas”.
Um estudo
brilhantemente apresentado pela Fernanda Santos, para ser consultado,
aplicado e recomendado. Parabéns!No tratamento documental do livro
[antigo], as notas marginais manuscritas (ms) devem revestir uma
importância particular. Quando a proveniência é identificada, as notas
ms podem – após cuidadosa e perita análise – ser atribuídas ao(s)
antigo(s) possuidor(es) da obra e se este não for desconhecido, as notas
assumem um especial e acrescido relevo para a investigação. Por outro
lado, o documento adquire um valor bibliográfico, conferindo-lhe o
estatuto de exemplar “único”, independentemente do autor estar ou não
identificado.
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